domingo, 4 de julho de 2010

De volta à prancheta


Já era. O "sonho do hexa" tem de ser adiado por mais quatro anos. Muitos falam que o atual elenco decepcionou. Mas eu discordo. Acho que a pressão da imprensa e, consequentemente, da população sobre a Seleção Brasileira é demasiada. Não que isso venha a afetar os atletas, todos experientes e maduros o suficiente para lidar com isso - até porque, para vestir a amarelinha tem de "aguentar rojão".
Quero dizer que esperou-se muito de um grupo que fez pouco. Há quantos anos não vemos o Brasil fazer uma grande partida? Há quanto tempo não vemos a canarinha apresentar aquele futebol de encher os olhos, com dribles desconcertantes, jogadas de genialidade individual e fantástico entrosamento? Há quanto tempo a Globo exalta a Seleção mostrando aquele mesmo drible do Robinho contra o Equador? Fomos enganados. Enganados pelo nosso fanatismo e excessiva autoconfiança. O hexa em 2010 era realmente um sonho.
Basta comparar com o Brasil da Copa do Mundo da Alemanha, em 2006. Aquela, sim, foi uma decepção. Éramos os atuais campeões do mundo. 100% de aproveitamento na Copa da Coreia e Japão (2002). Na Copa América de 2003 fomos favorecidos por uma Argentina em péssima fase. Mas atuamos com um time praticamente junior, quase um sub-20. O título da Copa América daquele ano foi comemoradíssimo. E com razão, pois os nossos meninos, o futuro do nosso futebol, já eram melhores que o elenco principal da nossa maior rival. E aquele grupo da Copa das Confederações de 2005?! Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Adriano e Robinho, todos em boa fase. Está certo que vestindo a camisa do Brasil eles não jogavam metade do que mostravam nos clubes. Mas ainda assim eram, sem dúvida, a melhor seleção do mundo. A prova disso foi a goleada de 4x1 sobre os nossos hermanos, na final da Copa das Confederações. Na Copa de 2006, sim, se esperava muito do futebol brasileiro. Mas decepcionamos.

Já o desempenho do Brasil nessa Copa de 2010 foi previsível. Quando ganhei a primeira tabela da Copa, numa padaria aqui do bairro, eu preenchi tudo e disse: o Brasil vai sair nas quartas de final, perdendo para a Holanda. Por que esperar tanto da Seleção Brasileira? Aquela que na Copa das Confederações do ano passado precisou de um pênalti aos 45 do segundo tempo para vencer o Egito por um chorado 4x3. Eu não esperava muito dela. Nem ninguém deveria estar tão convencido de que o Taça do Mundo seria da seleção que na última rodada das Eliminatórias da Copa torceu por outros resultados para não perder a liderança... para o Paraguai. Somos os melhores da história. Mas não somos sempre os melhores.
Sobre a nossa mania de eleger culpados e crucificá-los, eu considero uma grande falta de humildade. É como se não aceitássemos que a Seleção Brasileira, pentacampeã do mundo, pudesse ser derrotada. Não queremos acreditar que o Brasil perdeu por ser inferior. Como foi com Barbosa em 50 e Roberto Carlos em 2006, agora procuramos uma cabeça para 2010. Felipe Melo foi infantil, imprudente e irresponsável? Sim. Mas esse é o futebol dele. Se a Juventus contratou ele, é porque acha que vale a pena pagar milhões pelo futebol dele. Se Felipe está na Seleção, não foi ele quem escolheu. Felipe Melo foi escolhido. E aí chegamos ao responsável pelas convocações não só de Felipe Melo, mas também de Doni, Michel Bastos, Gilberto, Kléberson, Josué, Júlio Baptista ("La Besta") e Grafite. E ainda pela não convocação de Ronaldinho Gaúcho, Hernanes, Paulo Henrique Ganso e Neymar - não que eles fossem resolver o problema, mas ao ver a lista de convocados não dá para acreditar que não havia espaço para os citados. Dunga fez um bom trabalho? Não. Mas ele nunca havia treinado qualquer equipe. E nem pediu para treinar a seleção. Quem o colocou no cargo foi o nosso eterno Ricardo Teixeira - que na minha visão fez de Dunga um fantoche nos dois primeiros anos, até que o treinador começasse a andar e falar por si. Porém, prefiro não procurar culpados, mas aceitar que o país que teve os melhores jogadores do planeta não vem de uma boa "safra".



As quartas de final
Holanda 2x1 Brasil - após um massacre no primeiro tempo, a canarinha perde de virada. A diferença do primeiro para o segundo tempo foi absurda. A conversa no intervalo, lá no vestiário, é que foi decisiva. É onde fica clara a diferença entre um verdadeiro técnico e um jogador à beira do gramado. Não culpo Felipe Melo pelo gol contra, visto que se a bola chegou na cabeça dele é porque já havia passado por Júlio César. Este, sim, o culpado do primeiro gol da Holanda. Mas ele tem créditos até demais. Sobre a expulsão do volante brasileiro, dizem que era lance para amarelo e que ele só foi expulso por estar sem ferraduras. Mas a verdade é que com ou sem Felipe Melo a seleção brasileira não superaria a Laranja Mecânica naquela partida.

Uruguai 1x1 Gana (4x2 pênaltis) - sem sombra de dúvidas foi o melhor jogo da Copa até então. Contou com todos os elementos que fazem do futebol o mais encantador dos esportes. No fim, Asamoah Gyan não suportou o peso de um continente. O novo recorde africano ficou no quase. Bateu na trave.

Argentina 0x4 Alemanha - eu já havia comentado que, apesar dos muitos gols, a Argentina não estava jogando um grande futebol. Além de que foram favorecidos por enfrentar equipes que tinham medo de arriscar. A frágil defesa argentina ainda não havia sido testada. Os alemães testaram de todas as formas: cruzamentos altos, rasteiros, troca de passes rápidos... chocolate. Os hermanos caíram de quatro e poderia ter sido mais.

Paraguai 0x1 Espanha - emoções não faltaram. Um pênalti para cada lado num espaço de 2 minutos. Ambos desperdiçados. Quem esperava um passeio da Fúria deve ter mordido a língua. Os paraguaios foram superiores no jogo. Com uma marcação forte e um contra-ataque veloz, os sulamericanos deixaram os europeus desnorteados em alguns momentos. Mas quando tiveram a oportunidade de colocar o Paraguai à frente no placar, a responsabilidade pesou. Já a Espanha contou com a estrela de David Villa - que mais uma vez foi o herói da Fúria.

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